De São José ao Morumbi

26 09 2009

O que pode ser pior do que perder um mata-mata de Libertadores para o maior rival?

Viajar de outra cidade somente para assistir ao jogo. Luiz fazia faculdade no Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o ITA, em São José dos Campos. Ele e mais dois amigos foram de lá direto para o Morumbi. “Eu tinha certeza de que o Corinthians ia ganhar e ia pra final”, conta o bancário.

Porém, o clima de euforia foi interrompido assim que eles estacionaram numa ruazinha perto do estádio. Dois corintianos os abordaram perguntando se eles tinham dinheiro e, claro, para qual time torciam. “Meu amigo travou e não sabia falar que torcia pro Corinthians, ele não conseguiu! E os caras falando ‘é, você deve ser palmeirense’, e a gente ‘não, a gente é corintiano!’, lembra Luiz. A indecisão custou o dinheiro que eles tinham no bolso.

Já nas arquibancadas do Morumbi, Luiz se acomodou perto de onde fica a principal câmera da transmissão de TV. No primeiro tempo, o ataque do Palmeiras estava à sua esquerda e o corintiano logo reparou que o jogo estava bom para o alviverde Euller. Ele logo pensou: “é por aqui que eles vão ganhar o jogo”. O seu pressentimento se confirmou quando os palmeirenses empataram o clássico em 2×2, exatamente numa jogada do “Filho-do-vento”. O gol de Galeano, que sacramentou o 3×2 para o clube da Barra Funda, levando a disputa nos pênaltis, poderia ter sido evitado por Dida, segundo Luiz.

Ele acompanhou todo o jogo com atenção, mas não teve coragem de assistir às cobranças de pênalti… exceto uma: a de Marcelinho Carioca. Justamente, a que foi desperdiçada e determinou a pior derrota de sua vida. “Eu tinha certeza que o Marcelinho ia fazer o gol. Eu gosto de ver só o adversário cobrando o pênalti. Quando é do meu, eu só ouço a torcida vibrar. Lembro como se fosse hoje a torcida do Palmeiras do outro lado. Ele cobrou do lado direito do Marcos, que pegou. Foi um minuto de silêncio do meu lado, e um barulhão do outro. Eu não acreditava que o Corinthians tinha perdido. Fiquei durante um dez segundos imóvel, parecia que aquilo eu tinha visto havia acontecido. Parecia um sonho”.

Luiz acordou do sonho, ou melhor, do pesadelo, ao voltar ao carro de seu amigo e perceber que haviam quebrado as janelas e roubado o rádio. Em silêncio, voltaram a São José dos Campos, e aos poucos conseguiam comentar o jogo histórico a que assistiram. Ao finalmente chegar em casa, encontrou seu apartamento no ITA totalmente pichado de palavras nada amigáveis e expressões palmeirenses. “Meu apê todo virado, minha cama virada, porque todo mundo sabia que eu era fanático e enchia o saco de todo mundo. Mas mesmo assim eu continuei usando as coisas do Corinthians que eu tinha”, afirma.

Depois desse dia, Luiz ficou cerca de três anos sem ir ao estádio. Via os jogos pela TV, mas entrou em outra fase na vida e o fanatismo diminuiu um pouco. Porém, a vontade de ver o Corinthians triunfar na Libertadores permanece. “Boto fé que vamos ser campeões da Libertadores ano que vem. Se o Corinthians mantivesse o time da Copa do Brasil, eu tenho certeza de que seria campeão. Eu não tinha dúvida. Agora que mudou eu tenho um pouco de dúvida, mas mesmo assim ainda acho que vai ser”.

Ele pretende acompanhar a campanha do time pela internet, pois está morando em Boston. Pouco antes de se mudar para os EUA, o Blog lhe mostrou o vídeo daquele Palmeiras x Corinthians. “Não quis ver replay de nada depois. É a primeira vez que eu vejo esse jogo”, disse Luiz, durante esta entrevista. A sensação de rever o seu momento mais triste como torcedor: “Estou p…!”.


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